segunda-feira, 30 de abril de 2012

Como me tornei estúpido - Martin Page


Como hoje eu estou meio de mau humor, já que estou aqui trabalhando na segunda-feira, véspera de feriado, vim com uma sugestão light, beeeeem engraçadinha e beeeem pequenininha. Não sei nem se o livro se enquadra como um livro de bolso, ou se seria um conto, enfim... é pequenininho, e você lê num pulo.

Antoine é o personagem principal, e é também um anti-herói. Ele se convenceu que inteligência nada mais é que um empecilho para a felicidade. Segundo ele a inteligência e a crítica só o fazem sofrer e se sentir inadequado na sociedade atual. Após chegar a tal conclusão, decide que deve se massificar ao máximo, e buscar meios de agir como uma pessoa imbecil. Daí em diante, tenta se tornar alcoólatra, tenta se matar, e pensa até em fazer uma lobotomia. Nada disso, obviamente, dá certo, e é narrado de um jeito muito engraçado. Antoine então, passa a trabalhar numa corretora, usar um antidepressivo que entorpece sua consciência e por causa de um evento bizarro no trabalho, torna-se rico, bem sucedido e freqüentador da alta roda. Então, ser estúpido parece estar dando certo! O plano só não é perfeito nos intervalos de funcionamento do antidepressivo, e também por causa de seus antigos amigos, que não estão gostando nada do novo Antoine, e decidem fazê-lo passar por uma terapia de choque não muito convencional...

Livro bacaninha, de um autor novo, como já disse, bem fininho, de ler numa tacada só. O humor é ácido, fazendo crítica a nossa sociedade atual, ao sentimento de inadequação, à constante e crescente massificação do raciocínio. Recomendo, leiturinha fácil para o feriado que vem por aí (sim, que vem, já que, como disse, estou aqui trabalhando, não emendei feriado coisa nenhuma! Haha).

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Na Natureza Selvagem - Jon Krakauer


Sim, eu demorei bastante para escrever de novo, mas o trabalho anda tão maluco aqui, tanta coisa, que mal sobra tempo para respirar. Mas ao invés de me justificar, vamos ao que interessa:

Na Natureza Selvagem, escrito por Jon Krakauer, conta a história de Chris McCandless, um jovem de família rica dos EUA, que, pouco após sua formatura, desaparece. Mas não, ele não foi seqüestrado ou algo parecido. Ele largou tudo o que tinha, inclusive seu dinheiro, e resolveu fugir do sistema e das convenções. Depois de anos, seu corpo, já em decomposição, foi encontrado no Alasca. Causa da morte: inanição. O autor, com base em pesquisas, depoimentos e relatos, traça os dias de Chris, desde sua ruptura com o mundo, até sua morte, buscando a trajetória feita, as pessoas que encontrou, o que pensava quando tentou fugir dos padrões da sociedade.

O livro é uma espécie de documentário, um relato sobre esse jovem, que realmente existiu. Sim, a história de Chris é verídica. Um jovem que tinha tudo, mas resolveu não ter nada. Indignado com a percepção de que sua vida toda tinha sido programada, tendo uma relação delicada com seus pais, e um amor muito grande a sua irmã, e tendo sempre se mostrado um amante da natureza e de esportes, como a corrida, quando se viu finalmente confrontado, tendo que assumir a vida que as pessoas entendem que os adultos devem ter, resolveu viver da forma com que ele achava que deveria. Num primeiro momento, em sua jornada, leva seu carro antigo, algum dinheiro e documentos. Depois, decide viver em total harmonia com a natureza, trazendo consigo apenas o que poderia carregar. Abandona carro, o pouco dinheiro que tinha, e também seus documentos. Passa a se auto denominar Alexander Supertramp. Para se deslocar pede carona, se precisa de algo que custa dinheiro, faz algum bico, fica um tempo em algum lugar até que obtenha o pretendido para, em seguida, continuar seu caminho incerto.

O autor, jornalista, reconstrói esses acontecimentos, e nos diz um pouco da personalidade de Chris/Alexander. Para muitos, um louco irresponsável, para outros, principalmente para as pessoas que conviveram com ele, um sonhador, uma pessoa boa, extremamente cativante.

Jon Krakauer vai tecendo sua história, fazendo comparações com outros personagens de trajetória semelhante, contando também um pouco sobre a família que ficou para trás, as pessoas que Chris cativou em seu percurso, e tentando resolver algumas questões: Por que escolher o Alasca? O que aconteceu com aquele jovem, que até então parecia bem preparado e inteligente o suficiente para prever alguns acontecimentos e evitar erros, a acabar morrendo de inanição, sozinho, num ônibus abandonado no meio do nada?

O leitor, por sua vez, pode tanto se identificar com aqueles de perfil mais prudente, que além de questionar as escolhas de Chris, ingênuas até, ou se identificar com ele, o que, de certa forma, é o meu caso. Quem teria coragem de abandonar tudo assim, ABSOLUTAMENTE TUDO, e sair por aí, vivendo do que a natureza pode te oferecer, pois não acha que o mundo atual não é uma escolha? Ao mesmo tempo, a trajetória de Chris revolta alguns, pois, além de ter causado a morte dele próprio, ao se tornar uma espécie de lenda, muitas pessoas, até hoje, tentam refazer o caminho que ele percorreu, também tentando enfrentar o frio da Alasca totalmente sozinho, sem muitos recursos. Também dá para entender a irritação das autoridades policiais de lá, que tem seu trabalho dobrado ao resgatar imitadores de Chris McCandless.

O livro teve uma adaptação cinematográfica, com o mesmo nome (em inglês, Into the Wild). O diretor é ninguém menos que Sean Penn (que também escreveu o roteiro). O ator principal é Emile Hirsch, que está muito bem no papel. O filme também conta com nomes como William Hurt, Márcia Gay Harden, Vince Caughn e Kristen Stewart (até então uma semi-desconhecida). O filme é lindo, Sean Penn e Emile Hirsch arrasaram mesmo!

E para finalizar, mesmo que não tenha vontade de ler o livro, ou de ver o filme, ESCUTEM a trilha sonora, que é deliciosa, feita por Eddie Vedder (sim, para os incautos, vocalista do Pearl Jam). Vale muito a pena, é linda, dá vontade de colocar no repeat para sempre.




“(…) SEM JAMAIS TER DE VOLTAR A SER ENVENENADO PELA CIVILIZAÇÃO, FOGE E CAMINHA SOZINHO PELA TERRA PARA SE PERDER NA FLORESTA”. (foto e frase reais de Chris McCandless)

sábado, 21 de abril de 2012

Criança 44 – Tom Robb Smith


Na União Soviética do ano de 1953, o governo insiste em dizer que não há crimes no país. E, para quem discorda, resta a opressão. Mas o que ocorre quando uma família diz que seu filho, encontrado morto nos trilhos de uma ferrovia foi assassinado? E quando um agente da MGB desacata as ordens de ignorar o caso, correndo o risco de ser declarado inimigo do Estado e passa a buscar a verdade?

Gente, só o tema já faz com que eu diga que você tem que ler o livro. A ambientação da União Soviética é interessante (é impressão minha ou há poucos livros bacanas disponíveis que exploram essa temática?), pincelando temas sobre a relação com a polícia, com o governo opressor, sobre a época de Stalin, tortura, polícia secreta, e outros dados como o tratamento dado à homossexualidade na URSS, orfanatos, tratamentos psiquiátricos, educação, etc.

O livro é tenso, e ambientado em paisagem e cultura totalmente diferentes do que estamos habituados. Há neve por todo o lado, um inverno mais rigoroso do que podemos imaginar, as diferenças culturais e de época, pois estamos falando de uma nação comunista, vivendo em opressão.

Além dessa ambientação interessante da época (eu gosto de história, mas confesso que era mais aficionada pela história antiga, mitologia, etc., não por essa área mais ‘recente’ dos estudos), vamos ao que interessa do livro: A narrativa é ótima. Praticamente engoli o livro. Ele é de uma agonia tremenda. E quando vão descobrindo mais e mais crianças assassinadas (não é spoiler, oras, você achava que ‘criança 44’ significava o que?), nossa, vai te batendo uma tristeza... caramba, o governo simplesmente cala sobre isso e deixa tudo lá, como se fosse tudo ótimo, e as famílias que se virem, e engulam a dor, inventem uma justificativa para o ocorrido. E embora não haja mocinhos e bandidos clássicos (o super mau e o super bonzinho), afinal, lembrem-se, o personagem principal, Liev Demidov é agente do governo, não tem como não torcer para ele, para que ele resolva a bagunça toda, embora ele se encrenque muito por tentar.

O fim... achei bem bacana, e embora eu seja a mestre em ficar tentando adivinhar o final, devo dizer que fiquei passada com a explicação. Sério, me deu certo choque. Não passei nem perto de descobrir o assassino ou os motivos da barbárie.

Dizem por aí que o livro teve os direitos adquiridos pelo Ridley Scott, e que estão fazendo testes com atores. Bem, espero que sim, embora sempre me bata aquele medinho de adaptações de livros que gosto muito (e as fãs de Robert Pattinson dizem que ele estaria no filme... :/).

Um dado histórico interessante é que esse livro é parcialmente baseado na história verídica do serial killer Andrei Chikatilo, o Estripador de Rostov, que matou 52 pessoas na URSS. Mas sério, por favor, se forem pesquisar sobre o assunto, façam isso DEPOIS de ler o livro, porque estraga um pouco a resolução da história, hein? SÉRIO!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Pecadora – Petra Hammesfahr

Cora Bender era uma mãe de família, com um casamento tradicional, trabalhadora, jovem, tímida e tranqüila... até que um dia, num passeio com a família num lago, se lança contra um jovem e o esfaqueia repetidas vezes, em fúria, sem parar até que a retirassem de cima da vítima.

Para a polícia, um caso de assassinato simples, com testemunhas à disposição e com a confissão da agressora. Mas para o investigador Rudolf Grovian, não parece tão simples assim. Que motivos levariam essa jovem até então, acima de qualquer suspeita, a cometer um ato tão bárbaro? E porque a vítima não esboçou nenhuma reação, nenhuma defesa enquanto estava sendo agredida? Não é nem um pouco normal que um jovem sadio e forte não mostrasse nenhuma reação contra uma agressão vinda de uma mulher aparentemente frágil. Mas, ao investigar mais a fundo o crime, Rudolf se vê envolvido pelo passado de Cora, um inferno que ela não gostaria de lembrar, e que ele, talvez, gostaria de não ter entrado.

Assim se inicia o livro A Pecadora. A autora é alemã (vamos fugir de vem em quando do óbvio, né?), e ganhadora de diversos prêmios. É um thriller psicológico, que vai se aprofundando página após página. Você não consegue, de plano, se identificar com os personagens, que hora parecem inocentes, ora nem tanto. Existem inocentes?
A capa brinca com nosso conceito de pecado, estampando simplesmente uma maçã num fundo negro. Para mim, foi suficiente, título e capa, para despertar interesse pelo livro. Lendo a contracapa, sendo introduzida ao assunto, resolvi levar. O início, porcamente descrito acima, é dos melhores. Devo confessar, contudo, que no meio da leitura fiquei meio na dúvida, pois o assunto parecia não ter fim. Sabe quando você vê mais uma reviravolta e pensa: Caramba, quando isso acaba? E o fim... não vou estragar, mas é do tipo ame ou odeie. Enfim, pode por na lista de leitura, mas não precisa morrer para ler logo!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A Prova é a Testemunha - Ilana Casoy

Aqui no Brasil, impossível não ter sido bombardeado por notícias do caso da menina Isabella Nardoni. Não acredito que alguém, minimamente ligado nas notícias da TV, jornal e internet não saibam do ocorrido, acompanhando o caso, sua apuração e por fim, o julgamento (de Alexandre Nardoni, pai de Isabella, e de Anna Jatobá, sua madrasta). E não há quem ficasse imune à imagem da outra Ana, a mãe, e de todo o seu sofrimento, estampado no rosto, exalando a cada poro.

Pois bem. A pesquisadora Ilana Casoy pôde assistir ao julgamento, dia após dia, juntamente com a Promotoria. Logo no começo do livro, está uma peça técnica, jurídica, contendo a denúncia. Mas não pensem que o livro é somente assim, em juridiquês. Primeiramente, porque a denúncia serve para colocar o leitor no contexto do caso. E o que se segue é a narrativa da autora, muito bem feita, em linguagem clara, tanto que chegamos a ter a impressão de que estamos junto a ela, no Tribunal do Júri, assistindo ao julgamento, segundo a segundo.

Claro que todos sabem o desfecho do julgamento, mas não pensem que isso faz com que a narrativa fique cansativa. A descrição dos acontecimentos é muito detalhada, rica mesmo, sem tentar condenar os acusados logo na primeira folha. Fases do julgamento nos fazem lembrar o programa C.S.I., com as tentativas de criar e derrubar provas (lembrando o importante detalhe de que não houve confissão, nenhuma testemunha ocular, e com a vítima morta, não havia ninguém contando o que presenciou naquele apartamento do sexto andar). Em outros momentos, nos vemos num filme ambientado nos Tribunais, com os embates ferrenhos entre defesa e acusação.

Posso ter feito uma leitura meio apaixonada sobre o livro, pois sendo advogada, esse tipo de leitura me interessa. Mas não achem que ele é destinado aos estudantes/operadores de direito. O tema até hoje nos toca, e acaba interessando. Afinal, o que leva alguém a matar uma criança? E se a pessoa for o próprio pai?

Enfim, um caso real, finamente detalhado, com informações que a imprensa não nos deu. Mal posso esperar para ler outro livro da autora, O Quinto Mandamento, dessa vez sobre o caso von Richtofen, e conferir se a escritora manteve a mesma qualidade desse livro, hoje recomendado.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Ghostgirl – Tonya Hurley


Charlotte Usher é uma menina invisível. Pelo menos, ela acha que é. Ninguém na escola a nota, mas ela está disposta, neste ano, a mudar a situação. Será amiga de Petúnia, nada mais do que a menina mais popular da escola, e de Damen, o garoto dos seus sonhos e... namorado da Petúnia. Quando, para ela, seus sonhos parecem que poderão se concretizar, Charlotte morre. E uma morte digna de uma menina-invisível do colégio: Bem sem gracinha, sem estardalhaço, sem glamour. Uma morte bem idiota mesmo. Nem a vida e nem a morte parecem justas para ela!

Charlotte percebe que morrer não acaba com a necessidade de ir para a escola, embora as coisas estejam um tanto diferentes agora. Mas, ao invés de aprender com sua vida anterior, ela está mais interessada em usar os benefícios que a morte lhe trouxe, como ficar no vestiário com Damen, entrar na casa (e quarto, banheiro, closet) de Petúnia.

Quem nunca ouviu o ditado: “não julgue um livro pela capa”? Bem, nesse caso, posso dizer para vocês, vale a pena. A capa é uma graça, não se percebe por aqui, na imagem, mas ela é vazada, então, a capa, por si só, é essa parte preta meio moldura de espelho, meio caixão. Já na primeira página do livro é que está a ilustração de Charlotte.

Em cada início de capítulo, também há um agradinho: Outra ilustração meio gótica, mas bem fofinha, juntamente com trechos de livros, de filmes, uma coisa bem pop. E embora o livro seja de leitura rápida, e um tanto quanto juvenil, as poesias e as músicas escolhidas para terem um trechinho na abertura dos capítulos são um tiquinho mais antigas. Temos REM, The Smiths, etc. Assim, quem tem mais ou menos minha idade também pode se divertir, lembrando daquelas épocas em que colocávamos pedaços de músicas e poesias na agenda.

Charlotte é a típica adolescente que tenta ser popular e, para uma pessoa mais adultinha, isso pode parecer chato às vezes, porque ela é teimosa e infantil. Mas oras, é dessa infantilidade, por ela ser mais bobinha é que as cenas cômicas aparecem. A personagem mais madura na estória é a irmã da Petúnia, que pode ver Charlotte, e quem sabe, tentar colocar um pouco mais de juízo naquela cabecinha alma. Li o livro dando risada, me divertindo mesmo com as bobagens e confusões criadas pela Charlotte. Leiturinha boa, relaxada e descompromissada. E aí, para fazer minha boa ação, dei o livro para uma sobrinha minha. Ela já gosta de ler, mas com um livrinho desses, nada melhor para reforçar a idéia do amor às letras, não é?

PS: Comprei o livro no comecinho do ano, mas não foi tão fácil achá-lo. Encomendei na Livraria Cultura. Agora, não sei se a situação melhorou.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A Hospedeira – Stephenie Meyer


Stephenie Meyer é famosa pela saga Crepúsculo. Os mais fãs leram também seu outro livro, ainda sobre vampiros, A breve segunda vida de Bree Tanner. Mas ela escreveu outro, com uma temática mais distante desse universo, e é esse sobre o qual trataremos. 

Em A Hospedeira, uma espécie alienígena invade o planeta Terra, mais especificamente, os corpos dos seres humanos. Aparentemente, nada muda no exterior das pessoas, mas as mentes de cada um passam a ser habitadas pelos alienígenas.

Essa raça é faz com que nosso mundo, se torne, aparentemente, melhor, já que possui tecnologia mais avançada, e também são muito pacíficos, cordiais, educados e preocupados em reverter o mal que os seres humanos causaram ao planeta. Mas teriam eles direito em invadir nossos corpos?

Nesse livro, quase todos os seres humanos já foram subjugados por essa raça, apenas restando alguns dissidentes. A rebelde Melanie, de 21 anos, é pega numa emboscada, e seu corpo é destinada à alienígena Peregrina, que ganha esse nome pela quantidade de planetas que já habitou, nos mais diferentes corpos. Mas ela é avisada que os humanos são diferentes, e que ela experimentará uma avalanche de novas sensações, de emoções e conflitos.

O que Peregrina não imaginava é que Mel fosse resistir ao seu domínio, e que ambas tivessem que coexistir, duas mentes num só corpo. E que Peregrina fosse sim, invasora, mas também invadida, por uma série de sensações, acusações, e pelas imagens e lembranças de Mel sobre seu irmão, também sobrevivente, e de Jared, seu namorado. Pior ainda, Peregrina não poderia imaginar que começaria a sentir amor por esse humano, rebelde, mesmo com a constante vigilância da Buscadora (uma alienígena inserida num corpo humano, cuja atividade é perseguir os rebeldes restantes). Melanie também se vê dividida pela vontade de resistir e preservar seus amores, e a vontade de se ver novamente próxima deles. Isso também não diminui a complexa relação entre ambas, de amor e ódio, e da percepção, para as duas almas, que alguns preconceitos sobre as duas raças seriam realmente infundados. Só cabe conflito entre Mel e Peregrina, ou uma improvável amizade poderia realmente surgir? Até onde ambas podem, realmente, existir?

O triângulo desenhado pela autora se mostra interessante. Novamente, Meyer se aventura numa ficção, com seres que são frutos de nossa imaginação. Mas dessa vez, conforme dito, saem os vampiros que brilham, os lobos e a temática escolar-adolescente. A Hospedeira é um romance (em todos os seus significados), mas dessa vez, mais adulto, mais denso. E ela enfrentou bem a dificuldade do tema, embora pareça difícil pensar em como um livro pode ser escrito com duas narradoras, que travam embates mentais, sem diálogos “normais”. 

Assim, recomendado o livro, que segue a linha triângulo amoroso, tema tão querido por sua autora. E para quem ainda não sabe, esse livro terá uma adaptação cinematográfica, que já está sendo rodada. Aqui, posso estar sendo preconceituosa, podendo sofrer com aquela sensação que muitos leitores tem, de que a adaptação estragará o livro, mas é que achei os atores escolhidos novos demais. Pelas fotos, a coisa ficou meio adolescente, meio infantil demais... e fica a dúvida de como será feita, na telinha, as conversas das duas mentes que habitam o corpo de Mel... quando sair, vou conferir, mas confesso que com o pé atrás. Mas, também fiquei assim com Jogos Vorazes, e no fim, gostei!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Quase Noite - Alice Sebold


Uma filha mata a própria mãe, demente. E diz que, no fim das contas, isso não pareceu tão difícil de realizar. Esta é Helen, protagonista de Quase Noite, outro livro de tema denso de Alice Sebold. Esse livro conta as 48 horas da vida de Alice, entre acontecimentos do presente e lembranças de seu passado, o que a levou a cometer o matricídio, e como ela se comporta desse momento em diante. O livro, desde início se mostra chocante, e o que disse até agora está longe de ser um spoiler, veja a abertura da leitura:
No final das contas, matar minha mãe foi bem fácil. A demência, conforme desponta tem o poder de revelar o âmago da pessoa afetada. O âmago de mamãe era podre como a água fétida de um vaso de flores mortas. Ela era bela quando meu pai a conheceu e ainda capaz de amar quando eu, filha temporã, nasci. Mas, naquele dia, ao me encarar com seus olhos vidrados, nada disso importava mais
Portanto, logo se vê que não é fácil nutrir qualquer simpatia por Helen. Mas, não se engane, porque a mãe, em estado avançado de demência, sem controle de suas funções fisiológicas, era extremamente cruel, também não é fácil de ser digerida.

Assim que mata a própria mãe, liga para seu ex-marido e confessa. Daí em diante Helen parece fora de si, e seu comportamento não ajuda, mais uma vez, a nutrirmos simpatia ou compaixão por ela. Primeiramente, vai à casa de uma amiga e faz sexo com o filho dela. Depois, vai ao trabalho, sabendo que, naquele momento, a polícia provavelmente está descobrindo o corpo de sua mãe. Algumas lembranças de seu passado vão surgindo, e mostrando um pouco da vida de Helen e, talvez, dando pistas sobre o motivo do assassinato. Algumas pinceladas sobre a os sentimentos que tinha, quando criança, pela mãe, que foi uma mulher bela e cobiçada, porém distante. Os primeiros sinais da demência, e talvez de depressão e síndrome do pânico, que afastaram mais ainda a capacidade de aproximação entre mãe e filha, o abismo sentimental que foi se formando entre elas. Há também a visão de Helen sobre seu próprio pai, a admiração profunda que tinha por aquele homem, e que a impediu de enxergar que também era ele, disfuncional, e com sérios problemas. O amor que o pai tinha pela mãe não dava abertura para uma internação ou tratamento, já que ele era extremamente condescendente com sua mulher. 

Helen foi, durante toda sua vida, incapaz de viver por si mesma, sempre fazendo algo por alguém. E se viu obrigada moralmente a cuidar de uma mãe pela qual tinha sentimentos ambíguos.

O livro possui falhas, ao meu ver. Algumas vezes fica arrastado, e há uma escassez de diálogos que, talvez, torne a leitura meio cansativa, para alguns. As idas e vindas não são tão bem amarradas quanto às de alguns autores, o que também contribui para a dificuldade na leitura. Mas é corajoso ao expor temas que geralmente jogamos para debaixo do tapete. Até onde realmente vai o amor entre pais e filhos? Isso é algo natural? E, independentemente da resposta, muitas vezes, o cuidado que temos não é natural, algo que fazemos espontaneamente, mas sim fruto de uma imposição social e cultural. Quantas coisas fazemos ou deixamos de fazer porque alguém pode achar alguma coisa? No fim das contas, a protagonista tinha estrutura psicológica antes e quando cometeu o crime? Seja qual for essa resposta, ela merece nossa compaixão?

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Vida Roubada - Jaycee Dugard

Jaycee Dugard tinha onze anos quando foi seqüestrada por um estranho e sua esposa. Uma menina tímida, que não tinha lá boas referências do mundo masculino (o pai a abandonou, ela não conheceu. O padrasto era visto somente como uma fonte de críticas, de visível predileção pela filha biológica).
Indo para a escola, num dia até então normal, pensando em coisas que uma garota daquela idade, naquele contexto, pensaria, teve a vida interrompida por dezoito anos (dos 11 aos 29!). Durante esse período, foi proibida de dizer seu nome, ficava enjaulada em um porão, ou em quartinhos, e até mesmo numa barraca, no quintal de seus agressores. O banheiro se resumindo a um balde. E claro, as agressões físicas, psicológicas e sexuais sofridas.
Teve duas filhas com seu estuprador, durante o cárcere. O livro trata de suas memórias durante o seqüestro. No fim de alguns capítulos, ela faz uma reflexão, atual, dos fatos ocorridos, suas impressões, o que enxergou depois da terapia, como passou por aquele momento, etc.
O relato é interessante, principalmente, para percebermos o tipo de manipulação psicologia um adulto doente pode exercer numa garotinha tímida e sem experiências. E o quanto é cruel, para qualquer pessoa, imagine então para uma criança, estar nas mãos de um agente opressor, e dele depender para tudo na vida: comida, roupas, higiene, etc. Fazer uma criança acreditar que ela está fazendo um bom papel, pois está ajudando outras meninas, pois, com ela morando com o estuprador, ele não precisa mais “machucar outras meninas”, porque tem um “problema sexual” é muito perverso.
E difícil acreditar que esse homem, Phillip Garrido, tinha uma esposa, Nancy, que não só ajudou no seqüestro, como sabia do que ocorria com a garota, se omitia, e ainda confessava que distraia outras meninas na rua, as estimulando a fazer spacattos, enquanto o marido filmava tudo às escondidas, para fazer seus filmes. A esposa era auxiliar de enfermagem, e ajudou a realizar os dois partos de Jaycee (um aos 14 anos, outro aos 17).
Novamente, por óbvio, não se trata de uma leitura fácil. O texto é fluido, sem linguagem rebuscada, é cheio de fotos, trechos de cartas e diários que ela pode escrever durante o cárcere, mas nos momentos em que ela relata as agressões, principalmente quando ela cita as “maratonas” a que era submetida (não preciso entrar em detalhes para que seja possível imaginar de que se trata o tema) são torturantes. Por muitos momentos, parei de ler o livro, para poder respirar mesmo. Além disso, o que causa uma indignação tremenda é sabermos que aquele homem já tinha sido preso, por estuprar uma mulher, e estava em liberdade condicional. Nos EUA, significa que você estará submetido a um agente policial, que deve vigiar você, visitar sua casa, saber o que está acontecendo em sua vida, se está trabalhando, onde mora, o que faz... E dezoito anos se passaram sem que nenhum dos agentes tenha notado algo incomum. E Jaycee não foi mantida num cárcere longínquo, mas sim numa casa, num bairro residencial. Nunca houve um vizinho que desconfiasse. Mesmo quando ela ficou mais velha, e podia sair com os seus agressores, nenhuma pessoa desconfiava do jeito dela, de seu comportamento. Como a autora mesmo dizia, estava invisível. Ninguém a enxergava, ou desconfiava, ou se importava.  Somente em 2009 ela teve sua vida devolvida, reencontrou sua mãe e a liberdade. A autora tem uma fundação, a JAYC Foundation. Significa: Just ask yourself to... care! (apenas peça a você mesmo para... importar-se!). Em 9 de março de 2012 recebeu o prêmio DVF (Inspiration Award), para mulheres que lutam por justiça. 


Parte da renda de seu livro é destinada à sua fundação, e no site há maiores informações sobre como ajudar. No link a seguir, há um trecho introdutório do livro, em português. http://www.record.com.br/vidaroubada/images/vida+roubada+cap1.pdf
O endereço da JAYC Foundation é o seguinte: http://thejaycfoundation.org/
Para entender mais da história: http://thegrooversrpg.blogspot.com.br/2011/07/sequestro-de-jaycee-lee-dugard.html

sábado, 7 de abril de 2012

Dragões de Éter - Volumes 1,2,3 - Raphael Draccon


Conhece a história da Chapeuzinho Vermelho? João e Maria? Capitão Gancho? Pois se eu fosse vocês, me atreveria a ler Dragões de Éter e rever seus conceitos. No primeiro livro (sim, por enquanto, temos uma trilogia), Caçadores de Bruxas, somos apresentados ao mundo de Novo Éther e às histórias desses personagens que, acreditávamos serem tão conhecidos.
Um ponto muito bacana e importante sobre esse livro é que ele é de um autor brazuca. Raphael Draccon escreveu esse primeiro livro com 22 anos (!!). E não teve medo nenhum de arriscar, fazendo uma releitura de contos infantis, misturando uma releitura de cultura pop, Senhor dos Anéis, RPG, Final Fantasy, Eragon e Rock´n´roll.
Não tinha percebido o livro, mas um dia, visitando meu irmão mais novo em SP, olhei para o livro na mesa dele. Como ele me conhece bem, me falou vagamente do livro (contar muito sobre a história, parece que estraga. Meu irmão não me deu muitos detalhes, e também estou fazendo o mesmo), e perguntou se queria levar comigo. Até parece que dava para recusar a oferta! E voltei para Brasília contente com Dragões de Éter, rindo do ocorrido, afinal, quem geralmente saía recomendando livros pro meu irmão era eu. E olha só, ele não só aprendeu a lição, como tirou nota A +, já que além de tudo, me apresentou um livro que eu desconhecia totalmente. Meu irmão nerd, viciado em jogos de computador, me dando uma dessas! Será que, mais uma vez, o aprendiz superou o a mestre?
Mas não pense que, por tudo isso, o livro é destinado ao povo nerd/geek. Eu, que só tenho contato com esse universo por causa do maninho, mergulhei no livro e, embora para alguns, a quantidade de páginas assuste, acabei com ele em dois dias.
Ainda desavisada, depois de um tempo, passeando por uma livraria qualquer, esbarrei com outros dois outros Dragões de Éter, com as capas ligeiramente diferentes. Levei um susto, pois, a tonta aqui não sabia que existiam outros. Aqui, cabe uma crítica, tive que ficar olhando contra-capa, epílogos e trechinhos iniciais dos livros, para saber qual era o segundo, que seria o que levaria (o preço não animou a levar logo os dois). Desfeita a dúvida, voltei para a casa e voltei a mergulhar no segundo, e ... ele acaba meio que no meio. Fiquei enlouquecida! No dia seguinte (era sábado), lá vou eu sangrar meu cartão de banco mais um pouquinho e levar o terceiro, me odiando por não ter levado logo tudo de uma vez.
Desculpem-me por não contar muito sobre o livro, talvez seja uma falha, mas juro que é na melhor das intenções. Acho mesmo que contar muito estraga.
Para finalizar, devo frisar que quem me pediu os outros livros para ler, depois de descobrir que eu tinha, foi meu querido irmão nerd. Acho que esse é um dos únicos tópicos em que ele já não está a anos-luz na minha frente, então, ponto pra mim!
Para saber mais sobre o mundo criado por Raphael Draccon, clique aqui: http://www.dragoesdeeter.com.br/  Vale a pena a visita, o site é lindo!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Melancia - Marian Keyes

Claire acabou de se tornar mãe de uma menina e, ainda no hospital, o marido confessa que está tendo um caso com a vizinha que também era casada, e que vai sair de casa e pra ficar com a amante. Logo em seguida, sem mais explicações, ele sai correndo e a deixa sozinha.
Redonda como uma melancia, com a filhinha nos braços e sem entender quando e por que o casamento perfeito acabou, ela vai morar com a família desajustada, cheia de irmãs malucas e pais viciados em telenovelas. Passa por crises de bebedeira, depressão e mau humor, mas depois começa a dar a volta por cima, ainda mais quando um carinha aparece em sua vida. Mas então, seu ex-marido aparece e tenta convencê-la de que era a culpada por tudo o que aconteceu.

Lá vamos nós, para mais um dos momentos shame on me: Sim, um dos meus grandes preconceitos estava no gênero chik lit, literatura de mulherzinha, pra quem não conhece. Aí, por muito tempo, não quis comprar ou ler qualquer um desses tipos de livro ora, meu amor está com Saramago, até parece que vou fazer isso com meu cérebro. Metida, eu sei. Mas já corrigi o erro. 

Melancia, admito, não foi fácil. Comprei com a desculpa de para dar de presente para minha mãe, que estava ficando com muito tempo livre, por causa das sessões de quimio que ela está enfrentando. É um tal de viaja, pega taxi, espera, volta pra casa, não faz nada, fica quietinha, que me animou. Mas minha mãe não é muito de ler (a miopia/astigmatismo beeem alta também derrubam a animação dela). Então, sob o pretexto de querer algo levinho e engraçado, resolvi criar coragem e levar o livro (e claro, ler antes).

Vou falar que ri demais, achei o livro muito engraçado, e não tem como não se enxergar na Claire em muitas passagens. Você vai lendo e pensando: É assim mesmo! Poxa! Depois acabei descobrindo, pelos outros livros da autora que já li, que a identificação não ocorre somente nesse, mas com todos os outros personagens dos demais livros. Tem um pedacinho de nós em cada uma, mesmo que não tenhamos nada em comum com elas, a princípio.

As partes em que ela fala do corpo, que se acha gorda, as mulheres vão reconhecer em si mesmas. Se ela fala mal dos homens, critica algo na família, nas roupas ou nos comportamento dos outros, a gente se vê naquela situação. Acho que esse é o trunfo de Keyes, seus livros são atuais, e as dúvidas, raivas e angústias das personagens se encaixam no que uma amiga ou você mesmo pode ter.

Mas nem tudo são risos e, seguindo o fluxo do livro, encontramos uma lição de moral, algo pra pensar quando o livro terminar.

Não preciso mais dizer que não tenho mais problemas com os “livros de mulherzinha”, não é? E devo avisá-los que mamãe leu o livro, e em quatro dias (!!) segundo ela, o que é impressionante, já que a miopia e a quimio fazem com que ela não fique muito tempo disposta a ficar parada lendo. Preciso dizer mais?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Desculpa se te chamo de amor – Federico Moccia


Clichês, o que seria da vida sem eles?
Para relaxar um pouco, mudando o rumo das outras dicas literárias, vamos girar 180 graus (hum, pegadinha, hein?)e pegar um romance água-com-açúcar, bem sessão da tarde, bem melosinho, bem bonitinho, cuti-cuti, e quaisquer outros nomes que você quiser acrescentar. Às vezes a vida é tão chatinha, difícil, ou até mesmo perigosamente morna, que nada como dar uma escapada e assumir que, de vez em quando, a gente não quer raciocinar muito e acreditar em conto de fada, não é?

Eu vou admitir o preconceito gigante que tive com esse livro, por ser muito menininha, chick lit mesmo, então, por umas três vezes, vi o livro na livraria, olhava, olhava, pensava, mas acabava deixando para lá e levando um outro. Mas, depois de uns dias mais mau-humorados, decidi tentar melhorar, e passar um fim de semana tranquilo, lendo o livro sem raciocinar muito. Devo dizer, também, que uma prima se entusiasmou com o filme, e ficou toda suspirante, me contando tudo, aí me animei. Afinal, preconceito existe para ser derrubado. E caí do cavalo, já que gostei, comprei a continuação, assisti os filmes... shame on me, eu sei. Então, confissão feita, vamos ao que interessa:

Nikki tem 17 anos, é bonita, espevitada, divertida, anda sempre com suas amigas, e elas se auto-intitulam “ONDAS”. Alex tem 37, é um publicitário bem sucedido, casa bacana, carro bacana e... acabou de ser abandonado pela noiva. Depois de um acidente de trânsito os dois se conhecem, e se envolvem. Claro, há a diferença de idade, a diferença cultural, de maturidade (embora Alex às vezes seja imaturo, e Nikki pareça ser a madura da relação), o estranhamento dos amigos e das famílias sobre o relacionamento, e tudo mais.
Paralelamente aos conflitos entre os dois, também há as histórias dos amigos, então, virgindade, ciúme, traição, também acontecem com os personagens secundários. Muitas vezes você vai querer se envolver com eles, mas também, durante a leitura, também vai querer pular as páginas sobre eles, para chegar logo ao que te interessa, voltar ao casal principal.
É bonitinho, porque tem aquilo de fazer com que a gente esqueça das convenções, e dizer que, no fim, o que interessa é o amor, se estão felizes, e tudo o mais. Mas será que todas as diferenças desses mundos que se chocaram podem ser relevadas?
Ah, como disse,o livro tem uma continuação, e falaremos dela daqui a pouco. E, também já disse, ambos tem versão cinematográfica, italiana (a história se passa por lá), também muito meigas, claro, com suas adaptações, mas até bastante fiel ao livro. Os atores principais são lindos, e você vai querer passar um tempo em Roma... ah vai!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Jogos Vorazes - Suzanne Collins

Sinopse do site Submarino: Mistura de ficção científica com mitologia e reality show, Jogos Vorazes é o mais novo fenômeno da literatura jovem, precursor de tendência no milionário mercado de best-sellers juvenis: a dos romances ambientados num futuro pós-apocalíptico. Há mais de 85 semanas na lista de mais vendidos do The New York Times e de outras publicações de prestígio dos EUA, e elogiado por Rick Riordan, da série "Percy Jackson", e Stephenie Meyer, da saga "Crepúsculo", o livro, primeiro volume de uma trilogia, rendeu à autora Suzanne Collins lugar na balada lista de 100 personalidades mais influentes do ano da revista Time.

Ambientado num futuro sombrio, o livro narra uma luta mortal pela sobrevivência encenada por crianças e transmitida ao vivo para todos os habitantes de uma nação construída nas ruínas de um lugar anteriormente conhecido como Estados Unidos. Com este mote surpreendente e uma narrativa ágil, Jogos Vorazes já foi traduzido para mais de 30 idiomas e vem se tornando um crossover, atraindo leitores de diversas faixas etárias.

Não fiz, eu mesma, uma sinopse, pelo simples fato do filme estar bombando nos cinemas, e muita gente está correndo atrás dos livros (é uma trilogia, se alguém vive em marte e ainda não sabe) então, acho que não tem muita gente por fora do assunto, certo?

Li o primeiro e o segundo livro num só dia, e o terceiro, no dia seguinte, não tanto tempo atrás assim. E fui ver o filme sem muita empolgação, embora não seja, nem de longe, uma dessas fãs que acham que nada do que foi adaptado é bom. Longe disso. Eu só fiquei com certa birra, pela estratégia escolhida para a divulgação. Fiquei irritada com esse papo de “novo Crepúsculo”, “novo Harry Potter”, etc. Mas vamos por partes, e já avisando que vou acabar misturando minhas impressões do livro com o do filme, desta vez.

De certa forma, por ser uma literatura juvenil (aqui no Brasil foi lançado pela Rocco Jovem), pode ser que os créditos a Harry Potter e Crepúsculo sejam devidos, pois não acho imprudente dizer que os jovens de hoje, provavelmente iniciaram-se no mundo da leitura por causa de tais livros (Harry, principalmente). Assim, podemos até aceitar que esses livros anteriores abriram portas e mentes para Jogos Vorazes e suas continuações, pois a história agora é mais pesada, sombria, e com uma grande crítica social.

Aí um ponto muito interessante de Jogos Vorazes: A distopia (seria algo como o oposto de utopia) criada é muito inteligente, e várias críticas a nossa sociedade atual podem ser lançadas. O visual berrante da capital (nisso o filme foi além da minha imaginação, quando li os livros) pode ser visto como nossa obsessão em seguir os ditames da moda, os fashionistas, as it girls... toda a capital parece uma mistura bizarra entre os visuais dos japoneses (estilo harajuku), desfiles de semanas de moda que assistimos por aí e algumas pitadas de idéias de modificação corporal. E ninguém pode ser considerado da capital, se não estiver parecendo uma salada de estilos. Encontramos também a questão das diferenças sociais, pois os distritos são inferiores à capital, e há diferenças também entre si. Distritos mais, digamos assim, amigáveis, ao discurso da capital não ficam tão mal em comparação ao de Katniss (os mineiros), por exemplo. E temos, claro, toda a questão dos realities shows, da dominação que os meios de comunicação em massa podem exercer nas pessoas, e até que ponto podemos ser meros expectadores, pois nesse caso, estaremos diante de um show de horrores, mas que a capital pinta, grava e transmite como o melhor e principal evento de todos os tempos, o que, num primeiro momento, parece não ser questionado pelos membros dos distritos.
E nenhuma dessas críticas se diminuem na presença do casal principal (e acho que não tem como não amar o Peeta), do certo triangulo que se forma na história, e dos demais personagens carismáticos que vão aparecendo (como Rue, por exemplo, ou até mesmo o ranzinza Haymitch). Nada dessas coisas tiram o viés de critica social que o livro tem. Assim, é um livro mais adulto que os demais, que se tornaram febre atualmente.
Por isso me irrita a comparação, principalmente com Crepúsculo (e olha, tenho e gosto dos livros. Harry Potter, então, amo). Crepúsculo tem seus méritos, mas não há críticas sociais, a história é mais sentimentalóide, bem água com açúcar, o que, inclusive, assusta os leitores do sexo masculino. E Jogos Vorazes tem tudo para agradar o público masculino, pois é ágil, e tem muitas partes focadas no torneio, na arena onde os jogos se desenrolam.
Mas, como sou do sexo feminino, também devo acrescentar uma observação: Muito bom que seja uma heroína no papel principal, e que ela aja, e não somente fique berrando por ajuda. No filme, tive a impressão, inclusive, que o personagem Peeta fica muito passivo, sempre precisando de Katniss para se salvar. O livro me dá outra impressão: Ele tem ciência de que não tem lá os melhores dotes físicos para sobreviver ao torneio mas sem ele, e todos temos consciência disso, Katniss não se transformaria no que é apresentado ao público, pois ela não tem lá grande carisma. Já ele é dotado de uma oratória impressionante, e tem uma capacidade de visão em perspectiva que praticamente inexiste em Katniss. Ele consegue enxergar o futuro, e as manipulações do jogo e das pessoas. Ela não. É mais força bruta, impulsos, instinto.
Não li os mangás, mas sei que Jogos Vorazes se inspirou muito em Battle Royale, embora a maioria apenas cite suas semelhanças com o Mito de Teseu.
Se alguém ainda não viu o filme, recomendo muito. E devo registrar que as notícias que li sobre “fãs” revoltados com a adaptação me deixou muito indignada. Obviamente, sempre tem o fã mala que acha que a adaptação não está lá grandes coisas. Mas criticar a escolha da cor da PELE dos personagens me deixa horrorizada. Primeiramente porque Katniss, no livro, sempre me pareceu algo como uma índia americana (o livro diz que ela tem cabelos negros e lisos, e pele olivácea), e personagens como a Rue foram descritas tendo cabelo e pele marrom escuro, então, me choca com gente dizendo que a escolha da atriz negra era uma afronta. Gente, por favor! E para aliviar o tema, pra terminar, devo dizer que me senti uma velha no cinema. Enquanto as meninas mais novas suspiravam ao ver a primeira aparição do Peeta, eu e as mais “senhoras” da sala só nos manifestamos quando apareceu o Cinna. Todas nós, quase balzaquianas, praticamente gritamos: É o Lenny Kravitz! Corram para uma livraria E para o cinema, aproveitem o feriado!

Sorte - Um caso de estupro - Alice Sebold

Alice Sebold escreveu, até o momento, três livros. O mais famoso, Um olhar do Paraíso, já virou até filme, e é o que eu menos gosto.

Sorte é o primeiro de seus livros e é, de certa maneira, um tanto autobiográfico. Relata o estupro que ela sofreu, aos dezoito anos, no campus da universidade que estudava. A primeira parte do livro é um relato cru, seco, sobre o ocorrido. A autora era virgem, morava no alojamento da universidade, depois de sair de casa, e do abrigo da família, um tanto fora do normal, para estudar. Daí em diante, narra-se a jornada da autora, tentando não se vitimizar, sobreviver, procurar justiça... o que nem sempre dá certo, então, você vai encontrar também relatos sobre uso de drogas e passagens sombrias, que vão te dar um panorama sobre a vida de Alice.
Sorte, por muitas vezes, tem uma escrita irônica, o que se percebe até mesmo pelo título, que se justifica por uma história que lhe foi contada por um policial, à época do estupro. Ele, talvez numa tentativa tosca de consolar Alice, diz que, naquele mesmo local, uma garota também teria sofrido o abuso, mas havia sido assassinada, assim, ela teve “sorte”.

Leio e vejo muita gente comentando que não é o tipo de livro que gosta de ler, que o assunto não atrai. Bem, obviamente, o tema não é fácil, e o livro está a anos-luz de ser considerado “chick-lit”, mas, acredito que o assunto deve ser encarado. O que, aliás, era o propósito da autora, que pretendia, de certa maneira, desmistificar a palavra estupro. E devemos dar razão a ela, afinal, essa palavra costuma ser dito baixinho, pessoas que são vítimas do abuso (hoje em dia, não somente as mulheres, já que a lei brasileira agora entende -ufa- que tal crime não é exclusivo), e que, infelizmente, muitas vezes as pessoas olham para as vítimas com olhares acusatórios, como se a vítima pudesse ter alguma culpa pelo ocorrido.
Então, obviamente, não é uma literatura fácil, para distrair o cérebro. E aí está seu trunfo. É triste, angustiante, faz pensar, dá raiva, dá nojo, mas também mostra que é possível sobreviver ao ocorrido, viver, e encontrar novos caminhos.

O chato é que é praticamente impossível conseguir esse livro, tem que fuçar muito na internet ou em sebos por aí... ou ter muita sorte em achar um exemplar perdido numa livraria. É mais fácil encontrar o Quase Noite, mas dele falaremos num outro post.

Cilada - Harlen Corben

Haley McWaid tem 17 anos, um futuro promissor, é bonita, inteligente, aluna exemplar, família ajustada. Mas um dia, simplesmente, não volta mais para a casa. Tudo indica que ela foi vítima de uma rede de pedofilia, e que Dan Mercer está envolvido. Uma repórter de televisão, Wendy Tynes, arma uma cilada para Dan, que é exposto em rede nacional, mas acaba sendo absolvido por falta de provas. Pouco tempo depois, é assassinado, e a repórter se torna a única testemunha do crime. Seus instintos acabam dizendo que, talvez, embora ela tenha incriminado Dan, ele poderia ser inocente.
Wendy desmascarou um criminoso ou acabou envolvida na morte de um inocente? Deve acreditar só nos fatos ou seguir seus instintos?
Buscando encontrar a verdade, ela esbarra em pessoas acima de qualquer suspeita e verdades que não deveriam ser reveladas.
Dos livros que li de Harlan Corben, Cilada, para mim, foi o melhor. E olha que o que me fez ficar interessada, logo de cara, foi a capa. Geralmente fico bisbilhotando as orelhas dos livros, a contracapa, enfim, esse me pegou no lance! Engraçado, a não muito tempo atrás, ninguém dava muita atenção para fazer capas bonitas, agora, olhe só! Ainda bem, pelo menos, para mim. Bem no estilo de Corben, de capítulo em capítulo, mais coisas vão sendo reveladas, e você vai mudando ou confirmando suas próprias suspeitas, tentando ver se consegue adivinhar o fim do livro. E nesse, errei feio. Fiquei chocada com uma revelação, obviamente, não vou entrar em detalhes (oi, nada de spoilers), afinal de contas, jogou todas as minhas suspeitas na lata de lixo. Cheguei a ficar triste, meio com raiva de ter sido daquele jeito.
Como está escrito logo na capa do livro: ninguém pode escapar das próprias mentiras.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Ensaio sobre a cegueira – José Saramago

Ok, poderia ter inaugurado com um livro mais fácil. Eu sei que o tema é delicado, que o Saramago escreve quase sem utilizar pontos finais, os personagens não têm nome, etc.

Mas gente, o livro é assustador. E bom.

Num dia qualquer, durante uma pausa no semáforo, um homem perde a visão. E a cegueira é descrita como “mergulhar em leite”, uma cegueira branca. A partir de então, todos os que tem contato com esse homem, e assim por diante, como numa epidemia, também vão sendo “contaminados” por essa estranha doença. Nada que o governo faça evita o alastramento da doença e assim, numa medida drástica, os doentes são encaminhados para uma quarentena, um isolamento.
Abandonados num lugar com poucos recursos, tratados com violência e descaso, o melhor e o pior do ser humano começa a aflorar. Apenas uma personagem, misteriosamente, mesmo estando cercada de cegos, não desenvolve a doença, e ela se torna testemunha do quão baixo o homem pode alcançar.
Tem de tudo no livro, luta por comida, sujeira, sentimentos bons de união e claro, os conhecidos relatos dos estupros ocorridos, determinação do grupo dominante do local. Essas partes chegam a ser torturantes, difíceis de ler, em alguns momentos, dá dor de cabeça, você para de ler para respirar.
É um ótimo livro para pensar no que seria viver no caos e, como nos privando das coisas modernas com as quais nos acostumamos, viramos todos bichos. Talvez não, pois não acredito que nenhum animal se porte de tal maneira. Mostra o pior lado do ser humano. Mas também mostra que coisas alegres podem ser as mais inocentes, quando estamos tão privados de tudo.
Leitura muito mais do que recomendada! O que está esperando?

Ps. O livro teve uma adaptação cinematográfica excelente, por um brasileiro, Fernando Meirelles, que o próprio Saramago aprovou. Aliás, Saramago ganhou, entre muitos prêmios, o Nobel de Literatura. Vai encarar?