segunda-feira, 9 de abril de 2012

Vida Roubada - Jaycee Dugard

Jaycee Dugard tinha onze anos quando foi seqüestrada por um estranho e sua esposa. Uma menina tímida, que não tinha lá boas referências do mundo masculino (o pai a abandonou, ela não conheceu. O padrasto era visto somente como uma fonte de críticas, de visível predileção pela filha biológica).
Indo para a escola, num dia até então normal, pensando em coisas que uma garota daquela idade, naquele contexto, pensaria, teve a vida interrompida por dezoito anos (dos 11 aos 29!). Durante esse período, foi proibida de dizer seu nome, ficava enjaulada em um porão, ou em quartinhos, e até mesmo numa barraca, no quintal de seus agressores. O banheiro se resumindo a um balde. E claro, as agressões físicas, psicológicas e sexuais sofridas.
Teve duas filhas com seu estuprador, durante o cárcere. O livro trata de suas memórias durante o seqüestro. No fim de alguns capítulos, ela faz uma reflexão, atual, dos fatos ocorridos, suas impressões, o que enxergou depois da terapia, como passou por aquele momento, etc.
O relato é interessante, principalmente, para percebermos o tipo de manipulação psicologia um adulto doente pode exercer numa garotinha tímida e sem experiências. E o quanto é cruel, para qualquer pessoa, imagine então para uma criança, estar nas mãos de um agente opressor, e dele depender para tudo na vida: comida, roupas, higiene, etc. Fazer uma criança acreditar que ela está fazendo um bom papel, pois está ajudando outras meninas, pois, com ela morando com o estuprador, ele não precisa mais “machucar outras meninas”, porque tem um “problema sexual” é muito perverso.
E difícil acreditar que esse homem, Phillip Garrido, tinha uma esposa, Nancy, que não só ajudou no seqüestro, como sabia do que ocorria com a garota, se omitia, e ainda confessava que distraia outras meninas na rua, as estimulando a fazer spacattos, enquanto o marido filmava tudo às escondidas, para fazer seus filmes. A esposa era auxiliar de enfermagem, e ajudou a realizar os dois partos de Jaycee (um aos 14 anos, outro aos 17).
Novamente, por óbvio, não se trata de uma leitura fácil. O texto é fluido, sem linguagem rebuscada, é cheio de fotos, trechos de cartas e diários que ela pode escrever durante o cárcere, mas nos momentos em que ela relata as agressões, principalmente quando ela cita as “maratonas” a que era submetida (não preciso entrar em detalhes para que seja possível imaginar de que se trata o tema) são torturantes. Por muitos momentos, parei de ler o livro, para poder respirar mesmo. Além disso, o que causa uma indignação tremenda é sabermos que aquele homem já tinha sido preso, por estuprar uma mulher, e estava em liberdade condicional. Nos EUA, significa que você estará submetido a um agente policial, que deve vigiar você, visitar sua casa, saber o que está acontecendo em sua vida, se está trabalhando, onde mora, o que faz... E dezoito anos se passaram sem que nenhum dos agentes tenha notado algo incomum. E Jaycee não foi mantida num cárcere longínquo, mas sim numa casa, num bairro residencial. Nunca houve um vizinho que desconfiasse. Mesmo quando ela ficou mais velha, e podia sair com os seus agressores, nenhuma pessoa desconfiava do jeito dela, de seu comportamento. Como a autora mesmo dizia, estava invisível. Ninguém a enxergava, ou desconfiava, ou se importava.  Somente em 2009 ela teve sua vida devolvida, reencontrou sua mãe e a liberdade. A autora tem uma fundação, a JAYC Foundation. Significa: Just ask yourself to... care! (apenas peça a você mesmo para... importar-se!). Em 9 de março de 2012 recebeu o prêmio DVF (Inspiration Award), para mulheres que lutam por justiça. 


Parte da renda de seu livro é destinada à sua fundação, e no site há maiores informações sobre como ajudar. No link a seguir, há um trecho introdutório do livro, em português. http://www.record.com.br/vidaroubada/images/vida+roubada+cap1.pdf
O endereço da JAYC Foundation é o seguinte: http://thejaycfoundation.org/
Para entender mais da história: http://thegrooversrpg.blogspot.com.br/2011/07/sequestro-de-jaycee-lee-dugard.html

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