quarta-feira, 9 de maio de 2012

Questões do Coração - Emily Giffin


Primeiramente devo dizer que acho o título do livro meio cafona. E a sinopse não revela muita coisa. Portanto, eu, pessoinha pouco romântica mesmo, JAMAIS teria comprado esse livro a julgar pela sua capa. Como eu sabia o tema, pois um colega havia me dito, e sabia mais ou menos a forma de abordagem da autora, comprei o dito cujo. Mas, novamente, devo dizer: o título jamais agradaria uma pessoa não romântiquinha que passasse por ele.

E a história não é romântica. A autora já escreveu alguns chick lits que, inclusive, viraram livros. E a sinopse pode levar as pessoas a cometer esse terceiro erro de julgamento, mas não. Sejamos claros, o livro trata de traição, de infidelidade.
 
E a parte boa é a seguinte: Quando temos um casal e entra uma terceira pessoa, mulher, a maioria das pessoas pensa o que? Ora, sinceridade aqui. A maioria pensa que a terceira é uma louca, burra, irresponsável, e outros adjetivos bem mais chulos.

Esse é, ao meu ponto de vista, o trunfo do livro. Ele é escrito contanto a história pelo ponto de vista de ambas. As duas mulheres têm direito aos seus próprios capítulos (embora possa ser questionável o fato de existência de isenção, já que a voz da esposa está em primeira pessoa, enquanto a história “da outra” está em terceira).

Vamos ao que interessa: Tessa Russo é uma pessoa bacana, com bons ideais, esforçada, que larga seu noivo de sempre para se casar com um cara que conheceu no metrô: Nick Russo, que é médico, bonitão, inteligente, etc... e um dos melhores médicos que tratam de queimaduras em criança da região. Eles tem dois filhos, tem aquela vida que, à princípio, parece de comercial de margarina: filhos bacanas, carro, casa boa num vizinhança ideal. Tessa decide (sob protestos da mãe) abandonar sua carreira e ser mãe/esposa full time. E se vê num esforço gigante em ser perfeitinha, e entrar nos padrões exigidos pela vizinhança (fazer a comida da família, e que seja orgânica, jogar tênis com as amigas, fazer visitas sociais, decorar a casa no halloween e estar sempre bonita nos eventos).

Valerie é uma advogada formada em Harvard, mãe solteira, batalhadora, bem sucedida na carreira, o filhinho Charlie é uma gracinha, mas ela tem algumas questões pendentes no que diz respeito à superproteção, capacidade de confiar e, depois da desilusão com o pai de Charlie, grandes problemas de relacionamento, que refletem até no seu isolamento com as questões de relacionamento interpessoal com as pessoas de seu dia a dia (e ela é da mesma vizinhança que Tessa).

Eis que um acidente estúpido acontece, e há conseqüências graves: Charlie, ao passar a noite com um coleguinha, acaba gravemente queimado, e aí que os elos se juntam. O médico de Charlie é Nick e esses mundos, tão próximos e tão distantes, vão colidir.

Como disse, o grande trunfo é que não há quem seja certo. Tessa tem grandes virtudes, mas me dá um ódio intenso ver que ela não tem noção que está deixando de ser, por vontade própria, tudo o que o marido admirava, para tentar ser o que as vizinhas (e elas são terríveis, impossíveis de gostar) querem que as pessoas sejam. Ao mesmo tempo, mesmo vendo que está afundando, é incapaz de perceber isso. Mas ela é esforçada, e poxa, o marido nada diz, nem para aprovar, nem para desaprovar.

Valerie já ganha a simpatia da gente pela história de vida, por ter vencido sozinha, apesar de tudo. E a irracionalidade do ocorrido com o filho, e a forma com que as pessoas da vizinhança agem, lidando com o fato, fazem com que a maioria das pessoas, mesmo tendentes a fazer o pré julgamento sobre o qual falamos acima, sejam obrigadas a olhar através dos olhos dela. Obviamente, também somos apresentados aos defeitos dela, à excessiva fragilidade e insegurança que ela abraçou depois do acidente.

E temos Nick, mas embora não tenha lido outros livros da autora, já vi, em comentários de outras pessoas, que seus personagens masculinos não são tão bem definidos, desenhados. Ele é uma incógnita. Temos algumas coisas as quais podemos nos agarrar, para tentar entendê-lo, mas isso geralmente nos é fornecido por impressões de outros personagens.

É um bom livro para refletir, e por na cabeça de alguns que não há, na vida real (embora o livro seja ficção), mocinhos e vilões. Todos acertamos e erramos muito. Todos. E, quem sabe se faríamos igual ou diferente se estivéssemos, nós mesmos, vivendo as situações relatadas?

Minha ressalva está no fim do livro. Obviamente, não vou contar, mas acho que a autora se esforçou tanto em nos deixar em cima do muro (ou pelo menos, incapazes de fazer uma condenação sumária), que o fim foi meio vago. Ela fez tanta força para tentar ser imparcial que o fim ficou um tanto no ar. 

E aí, para você as coisas são assim, certas, preto no branco? Ou há cor ( e muito cinza) entre um extremo e outro?

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