quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Filha da Minha Mãe e Eu – Maria Fernanda Guerreiro


Mais um que levei pela capa, depois de passar pela livraria, olhar, não levar, passear de novo, olhar, não levar...

Mariana descobre que está grávida e, assim que vê as listas azuis no teste de gravidez, seu primeiro pensamento é sobre a necessidade de ajustar as contas com sua mãe, para que ela própria, possa viver a maternidade tranqüila.

À partir de então, passamos a ver Mariana menina, contando suas primeiras lembranças sobre vivências com sua mãe, Helena.

O relacionamento é conturbado. Helena é uma mulher forte, e Mariana a teme, a admira, não quer magoá-la, quer dar e receber atenção. Mas a mãe é fechada, muitas vezes, rude e parece ressentir-se do relacionamento da filha com o pai, Tito.

Mariana, por sua vez, não entende a raiva que a mãe demonstra quanto ao seu relacionamento com o pai, esse sim, amoroso, atencioso... além disso, a filha sente uma enorme diferença no tratamento dispensado pela mãe à ela, em comparação ao seu irmão, Gustavo. Aos olhos de Mariana, Gustavo sempre foi mais querido pela mãe, suas falhas e erros perdoados, seus pedidos de atenção, atendidos.

O livro vai narrando o crescimento de Mariana, e o desenrolar de sua vida familiar, infância, adolescência e vida adulta, até o fatídico teste de gravidez. Nesse relato, não só surgem os casos de Mariana, mas também acontecimentos entre seus familiares e que, por óbvio, refletem na menina.

Achei o tema interessante, e que tinha muito potencial, podendo ser desenvolvido profundamente. Mas a expectativa inicial logo se desfez, pois achei o livro raso.

Algumas coisas chegam a ser irritantes, de tão didáticas. Quando o livro trata de temas como dependência química, ou aborto, por exemplo, há o relato de Mariana, e logo em seguida, a personagem desanda a explicar pseudo-cientificamente, o que estaria acontecendo. Um exemplo: fulano usava cocaína. Cocaína é uma droga, apresentada como um pó branco, geralmente inalada, etc. (estou exagerando, mas esse é o princípio).

Além disso, em diversas passagens que deveriam ter uma carga dramática maior para a personagem, é narrado superficialmente, achei que faltou densidade. A autora quis falar de vários temas, durante a vida da personagem, e então, em nome da quantidade, deixou um pouco a qualidade de lado.

Mas talvez esteja sendo um pouco rígida, porque trata-se de um livro voltado ao público jovem, e maior profundidade em alguns temas poderia incomodar. Enfim...
Outro ponto que me desagradou um pouco é que, nesse livro, também vi errinhos bobos no português, ou seja, faltou uma revisão mais atenciosa (e olha, juro que não saio procurando erros durante a leitura). Quer exemplo? Bem, me foge o número da página agora mas, numa frase, está escrito “nos braço”. Desnecessário.

Indicaria o livro, com todas essas ressalvas, por um único motivo: durante a leitura, lembrei-me de uma série de acontecimentos, durante a minha vida, entre minha mãe e eu, que eu sequer lembrava que tinham acontecido, brigas bobas, outras nem tanto, e isso me fez pensar em uma outras coisas, que dizem respeito ao nosso relacionamento, ainda mais porque, no meu caso, minha mãe está em tratamento, para se livrar de um câncer (esclarecendo: meu relacionamento com minha mãe é incrivelmente bom, sem problemas e traumas, e até onde posso afirmar, mamãe está bem, seguindo firme e forte).

Serve para dar mais valor à algumas coisas, e a ver que, nem sempre, a outra parte está errada (Mariana acaba, após análise, reconhecendo que muitas de suas atitudes também estavam erradas, e acabavam por repelir a mãe).

Até a próxima!

Update: Encontrei pela net uma crítica semelhante a minha, e que acrescenta um ponto muito relevante: a não adequação do tempo narrativo - primeira pessoa - ao modo como a história foi contada. Uma boa resenha, aqui

8 comentários:

  1. Eu também não curti, como você viu lá no meu blog. Infelizmente, a autora pecou por excesso mesmo e deixou a qualidade de lado. E o tempo da narrativa foi outro erro grande. Primeira pessoa funciona de um modo muito diferente da terceira.

    Abraço!

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    1. A sua sacada sobre o problema do erro na escolha do tempo da narrativa foi ótima. como você disse, como alguém narrando em primeira pessoa tem conhecimento sobre fatos e sentimentos que não estão relacionados com ela? Muito pertinente!

      Um beijo!

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  2. Oi Aline!
    Eu tenho o livro, mas desanimei agora com a sua resenha. Acho que os erros de português e na narrativa também me incomodariam.
    Minha mãe é a pessoa que mais admiro, acho difícil ler algo em que a personagem desrespeita a mãe, sabe? Mesmo sabendo que é tudo fictício.
    Espero que dê tudo certo no tratamento da sua mãe. Estou torcendo por ela.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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    1. Na verdade, a personalidade mais complicada é a da mãe... embora eu a entenda. Mas olha, errinhos tiveram, e a história ser contada em primeira pessoa, e ela saber de tudo que acontece, inclusive com sentimentos alheios, também como narradora universal foi mancada sim. Como disse, para mim, serviu apenas para lembrar de algumas passagens familiares (minhas)

      beijão!

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  3. Oieee

    Adorei seu blog, é muito lindo. Vc escreve super bem também, parabéns!
    Estarei sempre dando uma passadinha aqui para saber das novidades.

    Beijos

    Lanny
    http://www.leituraeoutrostantos.blogspot.com

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    1. menina, fiquei um certo tempo com mei blog semi abandonado, mas estou voltando! Obrigada pelos elogios e apareça sempre!
      Com certeza vou visitar seu blog
      Bjao

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  4. Adorei a ideia do seu blog!! também tenho um blog sobre livros, se quiser dar uma passadinha lá, http://nataliadeoliveiraescreve.blogspot.com.br/ , poderiamos trocar ideias!
    beijus

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    1. demorei mil anos para responder, mas olha, vou passar a acompanhar seu blog!
      bjo e volte sempre

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