quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O sentido de um fim - Julian Barnes. Desafio Literário 2013


Cumprindo o prometido, vamos aqui fazer a resenha de um livro de acordo com o Desafio Literário de 2013! Como janeiro o tema era livre, escolhi esse livrinho (quis dizer que é fino, não ruim, hein? Muito pelo contrário)

Em o Sentido de um fim temos um protagonista, Tony na casa de seus sessenta anos, que possui uma vida confortável  relacionamento, embora não seja intenso, mas presente e cordial com sua filha e ex-mulher. Aposentado, enfim. Dono de uma vida relativamente tranquila.

Esse protagonista passa a contar a história de sua vida, já nos lembrando que a memória não é um campo exato. Talvez, o que ele relate não seja exatamente o que aconteceu, de fato, mas sim o modo como ele enxergou as experiências, ou até mesmo o modo com que resolveu guardá-las.

Assim, descobrimos sua infância e juventude, junto de dois amigos, e como esse grupo se moldou à chegada de um novo componente, Adrian. Esse novo amigo é uma pessoa inteligentíssima, brilhante até e, apesar de sua juventude já parece ligado em questões filosóficas que os outros amigos apenas conheciam superficialmente, as vezes somente para tentar impressionar aos outros e a si mesmos.

Cada um segue seu rumo, mas mantendo contato uns com os outros, e todos pretendendo maiores atenções de Adrian. Mas depois que Verônica, que foi a primeira namorada de Tony termina o relacionamento com ele e se envolve com Adrian, nosso protagonista se afasta dos amigos e vive sua vida.

Já velho, Tony recebe uma herança, de uma pessoa improvável: A mãe de Verônica. E com ela, um fragmento de texto de seu antigo amigo Adrian, que havia se suicidado pouco após o rompimento entre eles. Tony então, é forçado a reviver suas lembranças, talvez tendo que desenterrar fatos que ele preferiria omitir, resgatar memórias que julgava perdida e rever seus conceitos sobre a vida. Nem tudo, como ele próprio admitiu no início, ocorreu da forma que lembramos.

Julian Barnes, autor do livro é da mesma geração de Kazuo Ishiguro (tem resenha de um livro dele aqui) e de Ian McEwan, outro autor excelente (tenho vários livros dele, ainda não resenhei, vergonha). Todos eles tem em comum, para mim, essa facilidade de tratar de temas filosóficos, falar de melancolia, encontros e desencontros, memórias e julgamentos de forma pungente, porém, sem tornar o livro maçante ou difícil. A leitura flui, enquanto você somente aumenta seu assombro, a melancolia pode te atingir em cheio, mas não há partes em que o livro se torna pesado. Faz você pensar, avaliar seus conceitos, mas sem precisar parar a leitura e entender o significado da mensagem. E, quando finalmente o livro termina (e, nesse caso, jamais imaginaria o fim), ficamos segurando o livro e pensando na experiência que tivemos (ou não conseguindo pensar em muita coisa, já que estamos "entorpecidos" demais para raciocinar).

Para quem gosta de grifar livros, preparem a canetinha, garanto que pelo menos um trecho por página você vai querer marcar. Eu não gosto, mas não deixei de ter a impressão de tomar um verdadeiro tapa na cara em cada trecho.  Chegava a parar, ler de novo, só para ter certeza que absorvi toda a mensagem do autor.
Para quem não sabe ainda, esse livro foi o vencedor do Man Booker Prize de 2011. Em algumas vezes isso não é garantia de muita coisa mas, nesse caso, tome sim como um bom presságio.

Trechinho do livro, para "degustação":

"Eu jamais iria fazer as coisas que havia sonhado na adolescência. Em vez disso, eu aparava a grama, tirava férias, tinha a minha vida.
Mas o tempo... como o tempo primeiro nos prente e depois no confunde. Nós achávamos que estávamos sendo maduros quando só estávamos sendo prudentes. Nós imaginávamos que estávamos sendo responsáveis, mas estávamos sendo apenas covardes. O que chamávamos de realismo era apenas uma forma de evitar as coisas em vez de encará-las. O tempo... nos dá tempo suficiente para que nossas decisões mais fundamentadas pareçam hesitações, nossas certezas, meros caprichos"

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Formaturas Infernais - Vários autores

Talvez faça algumas pessoas se irritarem comigo mas, irei direto ao ponto: Não achei Formaturas Infernais muito bom não. Aliás, nem mediano.

Explico: O título, a diagramação da capa me fez imaginar que seriam contos... de terror, né? Um suspense, talvez...mas olha, quase nada ali me fez ficar impressionada, assustada ou coisa parecida.

Mas vamos por partes. São diversos contos, escritos por várias escritoras. Dividindo o post, temos:

A filha da exterminadora – Meg Cabot: Uma menina, no meio de uma balada, aponta uma besta para o novo namorado da melhor amiga. Quem é essa menina e, principalmente, porquê ela está tentando matar o namorado da colega?

O livro segue beeeeem o padrão da M.Cabot, o mesmo tipo de estrutura. Porém, está mais para uma comédia que para algo que assuste. E o conto tem um problema que se repetirá em outras partes do livro: a história não se conclui. Parece parte de um livro maior, que ficou inacabado, não “fecha” bem como um conto.

Depois, temos Lauren Myracle com o seu “O Buquê”. Bem, embora a autora, já no início, diga que se inspirou em um conto já existente, devo dizer que é a melhor parte do livro. Um conto de terror mesmo, com a autora cumprindo o objetivo proposto. A nossa personagem principal é apaixonada por Will, seu amigo. E quer, de qualquer forma, que ele a convide para a formatura. Decide por em prática um plano diferente: Ela, Will e mais uma amiga visitam uma cartomante, para que ela preveja o futuro de todos. A autora acerta no tema (embora a história não se passe, propriamente, na formatura), no tom proposto (um conto assustador) e numa história curta, mas sem pontas soltas. Muito bem!

Em seguida, Madison Avery e a Morte de Kim Harrison, onde Madison, entediada com a mudança de vida, que a obrigou a morar com o pai, acaba indo forçada para a formatura, com um par que não é, digamos, o que ela queria. No meio da festa, encontra o cara perfeito. Mas nada é tão perfeito assim, certo? O conto também deixa pontas soltas, acaba sem realmente “contar” toda a história.

Salada Mista, de Michele Jaffe, para mim, é um dos mais fracos. Não há terror, e sim uma coisa mais...x-man! (???).  A formatura, em si, também, praticamente passa despercebida, e não há nem uma pontinha de terror ou suspense na história que... também acaba sem explicar muita coisa.

Fechando o livro, Stephenie Meyer com Inferno na Terra. Para mim, um conto somente correto. Não chegou a assustar, mas é o único que realmente começa, se desenvolve e termina numa festa de formatura. Lá, vemos uma menina misteriosa que parece levar discórdia por onde passa, causando estrago nos ânimos de todos que estavam na formatura do local. Não é assustador, mas carrega um certo suspense, onde ficamos tentando descobrir o quê realmente está acontecendo e como aquilo tudo vai acabar. Ponto também para ser um conto que está bem estruturado, sem deixar pontas soltas inconvenientes. Mas não é excelente...

Portanto, livrinho de um dia só, leitura rápida e todos podem ficar tranquilos. Vamos todos dormir à noite tranquilos depois de enfrenta-lo.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Desafio Literário - 2013

Olá!!

Dando mais vida ao bloguinho, resolvi participar, esse ano, do Desafio Literário. Para quem não conhece, é uma espécie de gincana onde, cada mês, propõe-se um tema, e os participantes leem um livro que se encaixa no proposto. No fim, serão 12 livros, cada um seguindo a temática do mês.

Aqui está uma lista com meus prováveis livros. Espero que mais gente anime (independentemente de ter um blog, claro), e participe. Lembrando que haverá premiação. Interessou? Clique no link http://desafioliterariobyrg.blogspot.com.br/p/tudo-sobre-o-dl-2013.html

1-JANEIRO - TEMA LIVRE
O sentido de um fim – Julian Barnes

2-FEVEREIRO - LIVROS QUE NOS FAÇAM RIR
O analista de Bagé –Luis Fernando Veríssimo

3-MARÇO - ANIMAIS PROTAGONISTAS
Fernão Capelo Gaivota – Richard Bach

4-ABRIL - UMA OU MAIS DAS QUATRO ESTAÇÕES NO TÍTULO
O outono do patriarca – Gabriel Garcia Marquez

5-MAIO - LIVROS CITADOS EM FILMES
Apanhador no Campo de Centeio – J.D. Salinger (citado em Teoria da Conspiração).

6-JUNHO - ROMANCE PSICOLÓGICO
Precisamos Falar sobre o Kevin – Lionel Shriver

7-JULHO - COR OU CORES NO TÍTULO
Lua Azul – Alyson Noël

8-AGOSTO - VINGANÇA
Os Irmãos Corso – Alexandre Dumas (pai)

9-SETEMBRO - AUTORES PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS
Meu nome é Legião – Antonio Lobo Rodrigues

10-OUTUBRO - HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO
Feia – Constance Briscoe

11-NOVEMBRO - LIVROS QUE FORAM BANIDOS
Lolita – Vladimir Nobokov

12-DEZEMBRO - NATAL
Um conto de Natal – Charles Dickens

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Não me abandone jamais - Kazuo Ishiguro

Sabe aquele livro/filme que, quando acaba, deixa você procurando palavras? Você fica lá, deixando os créditos correrem enquanto ainda está sentado na poltrona, ou simplesmente fica ali, encarando a última palavra do livro (ou a capa). E parece que você pensa tudo, e ao mesmo tempo nada, sobre a mensagem do que você acabou de absorver (ou que é coisa demais para absorver).



Eu achei o livro tudo isso.



Ou talvez esteja só fora de forma.



É tão difícil falar sobre ele, e tenho tanto medo de dar alguma informação a mais, que prejudique o impacto que ele possa causar a quem resolver encarar o livro, que vou pelo caminho mais seguro, mesmo correndo o risco de, talvez, não despertar em quem lê o blog, vontade de ler o livro:

Kathy tem 31 anos e vai deixar de ser uma cuidadora, tarefa que ela e muitos outros acreditam que ela desempenha muito bem. Vai voltar ao plano originalmente traçado e se tornar, enfim, uma doadora. Enquanto não encerra as atividades de cuidadora, e se torna doadora, ela começa a revisitar seu passado em Hailsham, junto aos amigos Tommy e Ruth.

Não se deixe enganar, trata-se de uma distopia, e muito bem elaborada. E não ligue para meu resumo tosco e, se quer mesmo um conselho, NÃO saia por aí procurando mais coisas sobre ele. Vai por mim, deixe o livro tomar seu tempo, e ir explicando esses conceitos por eles mesmos (Hailsham, doador, concluir, guardiões, cuidador...). Serei até mais ousada e diria para pegar o livro e não ler sequer mesmo sua orelha, muito menos entrar nos sites de compra (ou até mesmo da editora) e ler o resumo dele. Muito do que está escrito ali pode estragar grandes partes do livro. E é muito interessante que você deixe que ele te choque por si só. Ou te assombre.

Mas não espere um thriller.  Não é um daqueles livros cheios de reviravoltas ou de fatos chocantes jogados na sua cara. Ele é sim, cheio de situações-limite, mas daquelas de filme de suspense, que vão chegando, chegando... chegam, se instalam e o terror está aí, em você constatar um fato que deveria ser óbvio.

Embora, como alguns digam, seja uma espécie de ficção científica, torna-se diferente pois a distopia não ocorre num futuro distante, imaginário. Ocorre em meados dos anos 50.

Para mim, o livro traz questionamentos complicados: o que nos torna humanos? Existe tempo para viver as coisas? Há como voltar atrás e recuperar o tempo, ou uma vez passado o momento, ele fica perdido? Para o amor, existe tempo? O que nos faz aceitar ou nos rebelar com o que é exposto? Se você tivesse mais tempo, o que faria? Ou o tempo nunca é suficiente?

Bem, não foi bem uma resenha, esse é daqueles livros que, ao tentar falar dele, há um certo bloqueio. Muitas coisas digitei e apaguei, digitei e apaguei.

Ah, e claro, como sempre aviso (quando eu sei): existe um filme adaptado, que manteve o título do livro em português (em inglês é ‘never let me go’). Muito bom também, razoavelmente (na verdade, bastante) fiel ao livro. Mas ele deixa as coisas mais claras desde o princípio. E, mesmo as menores mudanças podem alterar a visão que se tem do livro, claro. Por isso, recomendo COM FORÇA que, se você pretende, em algum momento, ler esse livro, fuja do filme. Não que ele seja ruim, longe disso, ele é muito bom. Mas ele irá tirar de você esse choque silencioso que o livro traz. As surpresas e os questionamentos talvez não sejam os mesmos.

E o elenco é bom. No papel de Kathy, Carey Mulligan. Keira Knightley como Ruth e um verdadeiramente bom Andrew Garfield como Tommy. Assistam depois de ler, caso ainda nenhum dos eventos tenham ocorrido (eu sei que estou sendo chata, mas, vai por mim).

Estou com a mente em branco depois de ler. E vi o filme pouco depois, então, desculpem aí a falta de jeito, mas o cérebro ainda está travado, maquinando as coisas que o livro me disse. Levanta agora e vai ler esse livro, povo (e, não custa frisar – depois de ler, veja o filme)!



“Não consigo parar de pensar nesse rio, não sei onde, cujas águas se movem com uma velocidade impressionante. E nas duas pessoas dentro da água, tentando se segurar uma na outra, se agarrando o máximo que podem, mas no fim não dá mais. A corrente é muito forte. Eles precisam se soltar, se separar. É assim que eu acho que acontece com a gente. É uma pena Kath, porque nós nos amamos a vida toda. Mas, no fim, não deu para ficarmosjuntos para sempre."