segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Não me abandone jamais - Kazuo Ishiguro

Sabe aquele livro/filme que, quando acaba, deixa você procurando palavras? Você fica lá, deixando os créditos correrem enquanto ainda está sentado na poltrona, ou simplesmente fica ali, encarando a última palavra do livro (ou a capa). E parece que você pensa tudo, e ao mesmo tempo nada, sobre a mensagem do que você acabou de absorver (ou que é coisa demais para absorver).



Eu achei o livro tudo isso.



Ou talvez esteja só fora de forma.



É tão difícil falar sobre ele, e tenho tanto medo de dar alguma informação a mais, que prejudique o impacto que ele possa causar a quem resolver encarar o livro, que vou pelo caminho mais seguro, mesmo correndo o risco de, talvez, não despertar em quem lê o blog, vontade de ler o livro:

Kathy tem 31 anos e vai deixar de ser uma cuidadora, tarefa que ela e muitos outros acreditam que ela desempenha muito bem. Vai voltar ao plano originalmente traçado e se tornar, enfim, uma doadora. Enquanto não encerra as atividades de cuidadora, e se torna doadora, ela começa a revisitar seu passado em Hailsham, junto aos amigos Tommy e Ruth.

Não se deixe enganar, trata-se de uma distopia, e muito bem elaborada. E não ligue para meu resumo tosco e, se quer mesmo um conselho, NÃO saia por aí procurando mais coisas sobre ele. Vai por mim, deixe o livro tomar seu tempo, e ir explicando esses conceitos por eles mesmos (Hailsham, doador, concluir, guardiões, cuidador...). Serei até mais ousada e diria para pegar o livro e não ler sequer mesmo sua orelha, muito menos entrar nos sites de compra (ou até mesmo da editora) e ler o resumo dele. Muito do que está escrito ali pode estragar grandes partes do livro. E é muito interessante que você deixe que ele te choque por si só. Ou te assombre.

Mas não espere um thriller.  Não é um daqueles livros cheios de reviravoltas ou de fatos chocantes jogados na sua cara. Ele é sim, cheio de situações-limite, mas daquelas de filme de suspense, que vão chegando, chegando... chegam, se instalam e o terror está aí, em você constatar um fato que deveria ser óbvio.

Embora, como alguns digam, seja uma espécie de ficção científica, torna-se diferente pois a distopia não ocorre num futuro distante, imaginário. Ocorre em meados dos anos 50.

Para mim, o livro traz questionamentos complicados: o que nos torna humanos? Existe tempo para viver as coisas? Há como voltar atrás e recuperar o tempo, ou uma vez passado o momento, ele fica perdido? Para o amor, existe tempo? O que nos faz aceitar ou nos rebelar com o que é exposto? Se você tivesse mais tempo, o que faria? Ou o tempo nunca é suficiente?

Bem, não foi bem uma resenha, esse é daqueles livros que, ao tentar falar dele, há um certo bloqueio. Muitas coisas digitei e apaguei, digitei e apaguei.

Ah, e claro, como sempre aviso (quando eu sei): existe um filme adaptado, que manteve o título do livro em português (em inglês é ‘never let me go’). Muito bom também, razoavelmente (na verdade, bastante) fiel ao livro. Mas ele deixa as coisas mais claras desde o princípio. E, mesmo as menores mudanças podem alterar a visão que se tem do livro, claro. Por isso, recomendo COM FORÇA que, se você pretende, em algum momento, ler esse livro, fuja do filme. Não que ele seja ruim, longe disso, ele é muito bom. Mas ele irá tirar de você esse choque silencioso que o livro traz. As surpresas e os questionamentos talvez não sejam os mesmos.

E o elenco é bom. No papel de Kathy, Carey Mulligan. Keira Knightley como Ruth e um verdadeiramente bom Andrew Garfield como Tommy. Assistam depois de ler, caso ainda nenhum dos eventos tenham ocorrido (eu sei que estou sendo chata, mas, vai por mim).

Estou com a mente em branco depois de ler. E vi o filme pouco depois, então, desculpem aí a falta de jeito, mas o cérebro ainda está travado, maquinando as coisas que o livro me disse. Levanta agora e vai ler esse livro, povo (e, não custa frisar – depois de ler, veja o filme)!



“Não consigo parar de pensar nesse rio, não sei onde, cujas águas se movem com uma velocidade impressionante. E nas duas pessoas dentro da água, tentando se segurar uma na outra, se agarrando o máximo que podem, mas no fim não dá mais. A corrente é muito forte. Eles precisam se soltar, se separar. É assim que eu acho que acontece com a gente. É uma pena Kath, porque nós nos amamos a vida toda. Mas, no fim, não deu para ficarmosjuntos para sempre."


4 comentários:

  1. Oi Aline! Gostei do teu jeito de expor a resenha! Dando alguns pontos chaves, mas deixando a pessoa extremamente curiosa!! Se essa era sua intenção, conseguiu! rs! Eu já estava interessada nesse livro, pois li uma resenha dele há um tempo e pra falar a verdade nem me lembrava muito da história, lembrava que eu tinha me interessado, mas, apesar de ter ficado interessada nele antes, não me lembro de ter ficado tão curiosa com esse 'silêncio chocante'. Você conseguiu acrescentar mais um estímulo para essa leitura! Assim que possível irei adquiri-lo e deixarei o filme para depois do livro! ;)
    Bjs!!

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    1. Ih, Marcella, pior que não foi intencional não. Falando sério, fiquei várias vezes apagando e escrevendo, tentando não revelar mais que o necessário. Leiturinha pra pensar na vida. Ando pegando só esse tipo de livro mas agora, estou dando uma relaxada com alguns mais “bobinhos”.

      Obrigada pela visita! Volte sempre

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  2. Vi o filme sem saber que tinha um livro, e gostei tanto que agora to louca com o livro! Só que em todos os lugares que vou as pessoas falam pra ler antes de ver.. é uma pena. Acho que vou ler mesmo assim, pois achei a historia incrível.

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    1. Menina, prefiro ler antes, mas não é sempre que isso acontece! Leia sim, se gostou do filme aposto que vai amar o livro!
      Bjo

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