quarta-feira, 24 de abril de 2013

Gabriel Garcia Marques - O Outono do Patriarca - Desafio Literário 2013



Demorei para postar por uma série de motivos: (finalmente) tirei uns dias de férias e fui viajar com mamãe, depois de muito tempo só programando, emendei pós com cursinho e trabalho, etc. Aí, a minha leitura descompromissada fica totalmente prejudicada e, por isso, acabo focando no Desafio Literário (e se é para ser desafio, não vou pegar água-com-açúcar, né?) Mas, vamos lá!

Um dos expoentes do chamado realismo mágico, onde a realidade  e o mundo onírico se misturam, de forma não delimitada, Gabriel Garcia Marques cria outra grande obra, o “Outono do Patriarca”.

Mais conhecido pelo seu “Cem anos de solidão” (aliás, ótimo e recomendadíssimo), é cult, bacana e bonito dizer que gosta-se de Garcia Marques. Mas não se engane, não são livros fáceis. 

No caso d’O Outono do Patriarca, outros itens aumentam a complexidade da leitura: não está delimitada a diferença entre a realidade e o imaginado; a construção do livro se dá em parágrafos extensos, com pouca pontuação (praticamente pontos finais e virgulas), o que torna o texto maciço e a não diferenciação entre as vozes de seus personagens (às vezes, quem conta a história é o ditador, outras, o narrador, e em outras, testemunhas dos fatos).

Portanto, não é o livro para se ler em um dia. Ao mesmo tempo, sua estrutura, de parágrafos longos, não permite que você pare de ler o livro em um ponto qualquer. É do tipo de livro egoísta e ciumento; exige que você tenha dedicação a ele.

Dito isso, vamos à história (ufa, né?): Num país sem nome, um ditador também sem seu nome revelado governa de forma tirana. Somos apresentados à um patriarca, que não se sabe como chegou ao poder, mas que está lá a tanto tempo que ninguém se atreve a contar. Refém da imagem que criou, ‘escraviza’ seu povo e seus empregados, usando o poder de forma irrestrita, canonizando a própria mãe, criando feriados quando bem entende, dando condecorações quando acredita ser conveniente, abusa das mulheres sem se constranger. É um semideus nesse país desconhecido.

Ao mesmo tempo, vítima do poder, modifica os fatos ocorridos para que se beneficie deles, vive preso às premonições que acredita ter e aos temores que ele próprio alimenta: dorme trancafiado num quarto cujas chaves somente ele possui e sofre com uma hérnia enorme no testículo, obrigando-o a dormir em uma única posição. Alimenta ilusões, reforçando-as com o uso de um sósia e é obrigado a ver que não é tão idolatrado, ao forjar sua morte. 

Uma passagem curiosa é a venda do mar que circunda o país, para o pagamento de uma dívida. Bizarro!

Percebe-se, portanto, que Garcia Marques inspira-se em regimes totalitários reais e, sabiamente, ao não nominar país e ditador, torna o tema familiar a todos nós, especialmente os que vivem na América Latina, a reconhecer o teatro e atrocidades que são cometidas num regime autoritário (o patriarca do título chega a mandar assar um de seus ministros, para se ter ideia). É uma crítica ao colonialismo, à ditadura, ao abuso do poder e sim, ao povo mau informado que acaba ajudando a perpetuar uma situação absurda.

Leitura boa, densa e crítica. Tire um tempinho em sua agenda para dedicar-se ao livro!