segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Fazes-me falta, Inês Pedrosa - Desafio Literário

Autor português contemporâneo é o tema do mês do Desafio Literário. Quis fazer algo não óbvio e fugir do Saramago. E quem me conhece sabe que amo Saramago. Minha primeira resenha aqui no blog foi dele. Os livros mais famosos já li, poderia facilmente aproveitar e ler mais um mas, quis diversificar.

E descobri que estou mal de autor português contemporâneo. Tive que pesquisar na internet e nas sugestões do site do Desafio, pois sozinha não saberia dizer um outro nome além do Saramago, que é ótimo, mas batidíssimo. Gente, que horror. Tapa com luva de aço na minha cara. Um chute bem dado de muay thay. Como assim??? Que vergonha!

Passado o choque com a constatação oficial da minha falta de cultura, acabei decidindo por 'Fazes-me Falta', da autora Inês Pedrosa. E não poderia ter acertado mais. O livro definitivamente entrou para minha lista top top.

Gente, tão lindo... tanto que às vezes você jura que está lendo um livro de poesia, mas não. É um romance mesmo. E se você é daqueles/as que ama sublinhar trechos de livro, minha recomendação é que compre um marca texto novo. Vai querer marcar tudo!

E triste. Conta-nos a história de um casal (irmãos? amigos? amantes? Só vamos descobrindo com o desenrolar da história) que não estão mais juntos, se afastaram com o tempo. A mulher, embora mais nova que o homem, acaba morrendo, o que gera a "reunião" de ambos. O livro é parte "escrito" pela mulher, já morta, em espírito, e parte pelo homem. Ela inicia um assunto, relembra passagem da vida a dois, conta algumas mágoas, alguns segredos. E ele continua o assunto, como se pudesse "sentir" o tema por ela iniciado. Ela, uma idealista, religiosa, que luta pelo que acredita, mesmo que se perca no processo. Ele, ateu, descrente depois de tudo que já passou na vida, cético e questionador, lógico. Agora se sentindo um viúvo, tamanha a falta que descobriu que a mulher lhe faz, e angustiado por só ter percebido o fato após a morte dela. A mulher, por sua vez, sente tamanha falta do homem que uma vez fez parte de sua vida que não consegue se desligar.

Qual o motivo da morte dela? Qual a razão do afastamento dos dois, e da origem de seus relacionamentos? Embora esses fatos acabem se desenrolando um pouco, matando a curiosidade do leitor, no fim, isso é o que menos importa. Você acaba arrasado (no bom sentido) pelos questionamentos mais profundos que surgem das "conversas" entre os dois, e a história física passa a ser completamente secundária. Os/as mais sensíveis podem chorar. Em mim acontecia aquilo de ler um trecho do livro, parar, apertar o papel contra o peito e suspirar. Pensar um pouco no que tinha sido escrito. Aí então me recuperar e partir para próxima.

Não há muito mais o que se contar, senão acabo entregando os mistérios que levantei acima. E os questionamentos mais "filosóficos" por assim dizer, não caberiam numa resenha. Como disse, é leitura para fazer até se chegar no ponto sensível, suspirar e pensar. Somente então prosseguir. E no fim, apesar da tristeza enorme que se sente, achar que as coisas podem ser ainda sim, muito belas.


"Há quanto tempo não me arde o coração?"

"Dei-me a tudo o que tu amavas e fiz de conta que era inocente, ou, pelo menos, perversa, para não te perder. Dei-me depois ao ressentimento de não te ter, à maledicência de ti, por não saber ser-te indiferente. Dou-te agora também a minha morte."

"Amei-te mal. Não fui tudo o que sonhavas de mim. Se ao menos tivesses levado o meu mau amor contigo. Mas insistes em ficar comigo, em atacar-me com os dentes cerrados da loucura. O teu silêncio esmaga-me."

"Ainda terei tempo para te esquecer? O teu riso é, sequer, esquecível?"