sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Feia: A História Real de Uma Infância sem Amor - Constance Briscoe (Desafio Literário)




Bem, vou começar pelo fim, e não se trata de nenhum spoiler, já que a volta por cima da autora está em todos os sites, resumos, até na aba lateral do livro, portanto, sem estresse. :P

Sem dúvida uma história de superação. Constance deu a volta por cima em grande estilo. Meu único problema com o livro é que, diferente de alguém que se supera após uma doença, ou após um acidente ou a morte de alguém, Constance precisou superar a maldade de uma pessoa. Que era, simplesmente, sua mãe. Então, claro, fico felicíssima pela autora, achei uma lição de vida a história toda. Mas, ao mesmo tempo, muito triste, mesmo assim, pois como pode uma mãe ser tão ruim? Mas, agora que o desabafo acabou, vamos arrumar a resenha:

Constance era chamada de Clare no começo de sua vida. Isso aliás, quase lhe dá um problemão no final do livro (não vou contar, isso sim seria spoiler). Sua mãe teve muitos filhos, entre naturais e uma adotada, de dois relacionamentos. Clare/Constance é filha do primeiro deles.

Mas, Carmem (a criatura-mãe) não parece nutrir um grande amor pelos filhos. Muito menos por Clare/Constance, por quem, aliás, parece nutrir ódio. A autora conta que, aos onze anos (!) procurou sozinha o Serviço Social, buscando sair de casa e se livrar do jugo da mãe. Ela ainda desenvolveu caroços nos seios por causa dos frequentes beliscões que a mãe lhe dava, como forma de castigo. Perdeu cabelos, ficou trancada sozinha em porões, foi surrada, humilhada, desenvolveu enurese (falta de controle na bexiga, ela fazia ‘xixi’ na cama mesmo com o avançar da idade), e até tentou se matar, ainda criança. Bebeu alvejante, pois disse que leu na embalagem que aquilo servia para matar germes (e a mãe dizia que ela era como um).

Não acho que a maternidade seja algo inato e me irrita profundamente aqueles que acreditam que uma mulher só se completa sendo mãe, ou aquelas coisas machistas que a gente ouve quando diz que não pensa em ter filhos: “ah, mas você vai querer daqui a pouco”, “quando você olhar para a cara do seu, vai apaixonar” ou o pior de todos: “quem vai cuidar de você quando ficar velha??” Portanto, sem essa de achar que a mãe era obrigada a ser aquele modelo de família de comercial de margarina. Acontece que Carmem era uma coisa a mais. Não é questão de ter ou não esse tal de ‘instinto maternal’. É a questão de ser uma pessoa muito ruim. Um ser humano horrível e, ao que parece, mais terrível ainda com Clare. Ela simplesmente não tinha que ter tentado ter filhos, ela nunca foi mãe, não achei que sequer ela fez um esforço, na verdade, era tão ruim, achando aquilo tão normal, que não me parece que chegou a se questionar um dia sobre qual seria o papel de uma mãe para as crianças, diferentemente do que ocorre no livro “Precisamos falar sobre Kevin”, sobre o qual já falei aqui.

A linguagem do livro não é muito rebuscada. Talvez porque Constance não seja uma escritora, também porque o livro conta a infância dela, a linguagem acompanha a idade. E, assinalando outro item, o sadismo de Carmem é repetitivo. Todos os dias é a mesma tortura, alguns, em especial, ela era pior. Então, achei agonizante ler o livro, quem gosta de ler uma tortura que não tem fim?

E, para finalizar, apesar de Constance ter dado uma senhora volta por cima, se tornando juíza, bem sucedida, claro que ficaram uma série de questões pendentes. Primeiramente, ela se submeteu a uma série de cirurgias plásticas quando adulta. Bem, quem sou eu pra dizer que sou contra, sou total a favor (já até fiz), mas em entrevistas, ela mesmo disse que acha que pode ter sido uma influência da mãe, uma tentativa de deixar de ser “feia” (olha, não estou julgando ela ter feito, fico triste de ver até onde a mãe dela chegou a atingí-la). Além do mais, no cumulo da minha revolta, ainda fico sabendo que Carmem a processou por ter contado essa história. Alegou ser mentira e, apesar de tudo que já fez, processou a filha  por difamação (também não é spoiler do livro, sosseguem, isso a gente lê na internet). Em mais um desabafo (o último, prometo), posso dizer que: bem feito para Carmem. Perdeu a causa. O júri reconheceu que a autobiografia de Constance era verdadeira, pois ficou evidenciado as cicatrizes, houveram relatos médicos e testemunhais.



Portanto, não é um livro bom de ler, no sentido de ser agradável. É muito triste saber que alguém passou por isso, e não é nem um pouco fácil ler o que Carmem fez com a filha. Mas muito bom exemplo de superação, de saber que, apesar dos maus tratos, é possível ser forte e superar os obstáculos da vida com louvor.

Feia, Dona Carmem???? Onde?!?!?!?
Ah, em observação: Já li, já fiz resenha, mas sugiro muito, dentro do mesmo tema, o livro "Vida Roubada", de Jaycee Dugard , minha resenha, aqui